quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Como funciona a edição de som?

Nos filmes, a imagem leva todo o glamour. Quando os críticos falam que um determinado filme vale um Oscar, eles geralmente referem-se a atuações poderosas, cinegrafia arrebatadora e efeitos visuais deslumbrantes. Mas o que aconteceria se você entrasse na sala de projeção e apertasse o botão de "mudo"?


Para a grande maioria dos frequentadores de cinema, o som pode vir em segundo lugar (ou terceiro, ou quinto), mas é uma parte extremamente importante do processo cinematográfico. O som estabelece o clima, cria suspense e acrescenta realismo. Em animações, o som é geralmente a diferença entre um desenho bonitinho e uma realidade digital convincente. E o diálogo? Aperte o botão de "mudo" e, de repente, aqueles atores com cachês altos não serão praticamente nada.


O editor de som é o responsável por tudo o que se ouve durante um filme. Esse trabalho algumas vezes é chamado de design de som, porque o editor cria, essencialmente, um “cenário auditivo” a partir do nada. É parecido com o compositor que escreve uma sinfonia. O editor de som precisa selecionar e harmonizar o áudio de centenas de fontes diferentes para criar um efeito desejado, desde o realismo absoluto a uma fantasia de outro mundo.
A edição de som é um trabalho extremamente importante. Os especialistas dizem que o público até aceita uma qualidade de vídeo nem tão perfeita, câmera tremida, imagens granuladas, mas um áudio limpo e claro não pode faltar. Você não verá editores de som na capa de revistas famosas mas eles têm papel essencial nos filmes. Os editores de som trabalham diretamente com o diretor para garantir que a visão do cineasta seja refletida no som.
Quais são os diferentes aspectos da edição de som? Quais ferramentas e técnicas os editores usam para criar desde os detalhes sutis de fundo às turbulentas batidas de carros?

O papel do editor de som

O trabalho do editor de som começa assim que as filmagens e gravações dos diálogos estiverem prontas. Isto é chamado de estágio de pós-produção de áudio (em inglês) em cinegrafia. Durante a pós-produção, o diretor trabalha com vários editores para escolher as melhores cenas a serem incluídas na versão final do filme. Também é neste momento que os efeitos especiais são acrescentados. A responsabilidade do editor de som inclui preparar todos os diálogos, sons de fundo, efeitos sonoros e a música para a mixagem final.





O primeiro passo é editar e limpar o diálogo. Quando o filme é rodado, o som geralmente é gravado separadamente com o uso de um gravador de áudio digital. Quando o diretor decide incluir certos takes ou cenas no filme, o editor de som precisa usar o áudio correto para a cena. Quando está certo de que o som está em sincronia com a imagem, o editor remove cuidadosamente qualquer som estranho no fundo do diálogo, como um avião voando acima ou um cachorro latindo.

Algumas vezes, o barulho de fundo é tanto que parte do diálogo fica inutilizável. Ou, algumas vezes, o diretor decide substituir uma fala do diálogo porque ele pensou em uma fala melhor. Então, o editor de som precisa fazer algo chamado dobragem de diálogo, no qual o ator ou os atores, são levados a um estúdio onde sincronizam o novo diálogo com o filme original [fonte: Filmsound.org - em inglês].

Uma vez que o diálogo é finalizado, é hora dos efeitos sonoros. Em produções maiores, um designer de efeitos sonoros faz esse trabalho. Há três tipos diferentes de efeitos sonoros em um filme: sons de fundo, efeitos hard e efeitos foley [fonte: Filmsound.org - em inglês]. 

A última parte do trabalho de um editor de som é com o editor musical ou o compositor de trilha sonora, para escolher o momento certo para as músicas originais ou pré-existentes. O editor de som prepara versões limpas dessas faixas de áudio para serem acrescentadas à mixagem final.

Então, quais são os truques e técnicas que os editores de som usam para criar efeitos sonoros únicos?


Usando efeitos de som

Imagine uma cena em um filme em que um homem e uma mulher estão sentados em um banco conversando no Central Park, em Nova York. Enquanto eles conversam, alguém passa de patins. Pode-se ouvir pássaros ao fundo e as folhas das árvores farfalhando com a leve brisa. Mais distante, ouvem-se sons abafados da vida na cidade: carros buzinando, ônibus passando e cães latindo.

Acredite ou não, quase nenhum desses sons foi gravado no local. O único som gravado no Central Park foi o do diálogo dos atores, captado com pequenos microfones presos às suas roupas. Todos os outros sons, os pássaros, cachorros, folhas, buzinas, e o som dos patins são, na verdade, efeitos sonoros adicionados posteriormente pelo editor de som para criar um cenário sonoro convincente do Central Park.

Os sons ao fundo são os mais sutis. O editor de som os usa para criar clima ou ambiência. Se a cena ocorrer em um escritório, os efeitos de fundo podem incluir telefones tocando, pessoas falando baixo em plano de fundo e o quase imperceptível ruído do ar-condicionado.

Um latido de cachorro pode ser acrescentado na pós-produção.




Então, de onde vêm todos esses efeitos sonoros? Alguns editores criam suas próprias bibliotecas de efeitos sonoros gravados. Eles podem levar um microfone a uma praia lotada e captar sons de crianças brincando e ondas quebrando. Podem-se gravar dezenas de sons de chuva diferentes caindo sobre superfícies diversas: telhados de zinco, pavimento, estradas de terra etc. Quando chega a hora de acrescentar os sons de fundo na cena do parque, eles procuram nas suas bibliotecas algo como “Central Park: outono.”


Atualmente, é mais comum para um editor de som adquirir grandes bibliotecas digitais de efeitos em CD. Elas oferecem uma ampla variedade de clipes de áudio que podem ser dispostos em camadas para criar uma ambiência convincente.

Além dos efeitos de fundo, algumas cenas pedem outros efeitos, como o hard - barulhos altos e violentos, tiros, socos e batidas de porta. Alguns desses efeitos hard podem ser baixados dos CDs de efeitos, enquanto outros são criados por pessoas chamadas de artistas Foley.

Artistas Foley usam técnicas pouco convencionais para recriar sons realísticos que são sincronizados com a ação na tela. Apesar de os artistas Foley também criarem efeitos hard, eles são mais conhecidos por fornecer detalhes sutis de áudio de uma cena, como passos em pisos de madeira, o som de um copo de vinho sendo colocado sobre um balcão de mármore ou o zumbido de pessoas em patins.

Os artistas Foley trabalham em um palco Foley abastecido com todos os tipos estranhos de acessórios necessários para o trabalho. Eis aqui alguns exemplos de técnicas Foley:

  • um saco amarrotado de batatas fritas para recriar o estalo de uma fogueira;
  • para dar realismo a chutes e socos no corpo, eles batem em um frango assado recheado com cenouras cruas e salsão;
  • o barulho de uma fita cassete embolada para imitar passos na grama;
  • o uso de luvas de couro para o bater de asas de pássaros;
  • moedas e porcas de parafuso atiradas com estilingue para captar o zunido de balas.



Agora, vamos viajar de volta aos dias que antecederam à era digital, quando a edição de som era feita usando fita magnética.


Edição mecânica de som

Antes dos computadores serem usados amplamente para a edição de som, nos anos 90, tudo era feito com fita magnética. Para fazer edição usando fita magnética, era preciso cortar, literalmente, a fita, remover a parte do áudio que você não queria e emendar a fita de novo.

A máquina escolhida para a edição mecânica de áudio era o gravador rolo-a-rolo. Com esse equipamento, era possível gravar e reproduzir áudio com carretéis circulares de fitas magnéticas de áudio. Também eram necessários vários equipamentos especializados de edição: uma navalha, um bloco e fita de edição.

Este é o processo básico de edição corta-e-emenda com fita magnética:

1. Ache o ponto de edição inicial (ou nó ponto), que é o ponto de partida, na fita, da seção de áudio que você quer remover. Isto é feito através de um processo chamado scrubbing, no qual o editor de som avança e retorna o carretel lentamente para achar o ponto preciso para fazer o corte. 

2. Usando um lápis especial, marque a fita diretamente sobre o cabeçote do gravador. 

3. Reproduza a fita até chegar no primeiro som que você quer manter, chamado de out point. Marque também aquele ponto de edição com o lápis. 

4. Remova a fita e coloque-a no bloco de edição. O bloco de edição contém fendas especiais com ângulos de 45º e 90º. 

5. Alinhe o primeiro ponto de edição com a fenda com 45º e corte a fita com a lâmina, seguindo o ângulo da fenda. Faça o mesmo com o segundo ponto de edição.

6. Usando a fita especial de edição, emende os dois pontos soltos de fita magnética, sem deixar espaços entre eles. 

7. Coloque a fita de volta no rolo-a-rolo e teste a edição. Pode ser preciso cortar mais de uma das pontas.


Quando a fita magnética foi inventada, no final da década de 1940, uma das suas maiores vantagens era que poderia conter múltiplos canais de áudio sem criar barulho excessivo. Isso possibilitava um processo chamado overdubbing ou gravação multifaixas.

Pela primeira vez, o editor de som conseguia isolar e individualizar cada pedaço do áudio (diálogo, efeitos sonoros, música) e gravá-los como faixas separadas. Isso é chamado predubbing. Então, as faixas individuais poderiam ser gravadas uma sobre a outra, sobrepostas, em uma única fita magnética. Os primeiros protótipos de fita magnética só suportavam duas faixas de áudio por vez, mas as versões posteriores podiam suportar centenas.


Edição de som em computadores

Agora, quase todos os editores de som usam sistemas de edição computadorizados chamados estações de trabalho de áudio digital (DAW). Estações de trabalho de áudio digital são sistemas multifaixas que simplificam e melhoram o processo de edição de som para todos os tipos de produção profissional de áudio (áudio de filmes, gravações de estúdio, DJs, etc).

As estações de trabalho de áudio digital variam em tamanho, preço e complexidade. Os sistemas mais básicos são, simplesmente, softwares que podem ser instalados em um computador pessoal comum. Outros sistemas profissionais, como o DigiDesign’s Pro Tools, requerem uma placa de som especial e são, normalmente, usados em conjunto com grandes mesas de mixagem digital e são compatíveis com centenas de efeitos e plug-ins de instrumentos virtuais. A vantagem desses sistemas é que um editor pode trabalhar com todos os tipos de arquivos de áudio vozes, clipes Foley, analógico e música em MIDI a partir da mesma interface.

O processo básico de edição de som não mudou muito na transição da fita magnética para o disco rígido. Cada elemento de áudio do filme ainda é editado como uma faixa individual (diálogo, efeitos, música). Mas com os arquivos em formato digital e o aumento da velocidade de processamento dos computadores, não há limites para a quantidade total de faixas. Além das múltiplas faixas de diálogo, o editor pode adicionar dezenas de efeitos ao fundo e camadas e mais camadas de Foley e música. Múltiplas faixas podem ser cortadas, copiadas, coladas, aparadas e terminadas com fade simultaneamente. E cada faixa vem com dúzias de controles de volume, separação em estéreo e efeitos, que podem simplificar o processo de mixagem.

Uma das grandes vantagens das estações de trabalho de áudio é que elas permitem aos editores de som trabalhar com representações gráficas do som. Com a fita magnética, tudo era feito de ouvido. Agora, os editores podem olhar as ondas sonoras na tela. Eles podem ver barulhos estranhos no fundo e removê-los apenas clicando com o mouse. Alguns DAWs podem limpar o áudio automaticamente, removendo cliques, silvos e ruídos de baixa frequência que poderiam arruinar um take em tempos passados.

Com interfaces gráficas, os designers de efeitos sonoros podem estudar a forma da onda de um som e facilmente dobrá-lo e distorcê-lo para criar algo completamente novo. O rugido de um leão pode ser esticado e se tornar mais grave, transformando-se no urro de um monstro marinho tremendo. Os DAWs mais novos até permitem controlar os sons ambientes através de um interface gráfica. Arraste o controle para a esquerda na tela e você verá onde o áudio irá aparecer no cinema.

Alguns DAWs são desenhados especialmente para filmes ou vídeos profissionais e incluem a habilidade de sincronizar o áudio com filmes e clipes de vídeo. Isto é especialmente útil para musicar um filme ou para adicionar efeitos Foley detalhados que precisam ser ouvidos precisamente quando ocorrem as ações na tela. Esses sistemas também permitem que você exporte áudio em formatos padrões de som surround, como o Dolby 5.1.



FONTE: How Stuff Works




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